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Deborah Goldemberg
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Insurgência Crônica

Sobre encontrar o seu lugar no mundo

Penso nas pessoas como grãos de milho de um punhado que, quando lançadas pelos ares, cada qual aterrissa num lugar. Uns acabam pertinho uns dos outros, outros mais espalhados e uns caem longe. No caso das pessoas, o grupo original pode ser a família, a classe na escola ou a turma do bairro. A mão que os reúne e lança – sabe-se lá?

Quando olhamos para a dispersão dos grãos no solo, dá para perceber como uns formam duplas, há alguns grupinhos e outros são mais solitários. Se suas trajetórias pudessem ser visualizadas, formariam a copa de uma grande árvore repleta de galhos.

Falando em árvores, o que me inspirou a escrever sobre isso foi conhecer um homem que mora no alto de uma árvore sozinho na floresta, na fronteira do Pará com o Maranhão. Na região, o povo o denomina de “o eremita”. Dizem que ele é alegre e gosta de receber visitas, particularmente de mulheres, mas não quer viver perto de ninguém. Prefere o silêncio, não ter que dar bom dia e boa tarde ou cumprir outros rituais cotidianos.

Chegamos através de uma trilha à floresta para conhecê-lo. E realmente é impressionante. Ele mora bem no alto de uma árvore imensa, cujo acesso se dá através de escadas que ele mesmo esculpiu. Do chão, se vê ao alto suas redes, uma cadeira tubular e até um fogão que parece flutuar. Foi desenvolvido um sistema de cordas que iça ao alto os mantimentos de que ele precisa para viver.

Ele vem nos receber todo animado e faz questão de dizer que é japonês. Fiquei imaginando que o punhado de milho do qual ele foi lançado deve estar realmente longe. Ele é o milho que ganhou asas e foi parar do outro lado do mundo. As pessoas, diferentemente dos grãos de milho, têm pernas e vontades. Vão se diferenciando desde cedo – uns aprendem a ler rápido e outros preferem desenhar. Uns beijam cedo na boca e outras menstruam mais tarde.

Não deve ter sido fácil. A cada fronteira que atravessamos, nos deparamos com uma nova língua, novos costumes, ora somos aceitos e ora não. Há o desafio de sobreviver e, principalmente, saber o que se quer depois de viver algo novo. Decidir ficar ou ir… ir, ir e ir. Para ele, foi ir até chegar à conclusão de não pertencer a lugar algum. Até encontrar a grande árvore. E decidir ficar nela. 

“Adeus”, eu disse a ele, ao me despedir. “Parabéns por ter encontrado o seu lugar no mundo”.

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