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Deborah Goldemberg
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Insurgência Crônica

O palhaço

Vivemos em busca de realizar o nosso potencial. Essencialmente, é isso. Tudo o que dizem sobre a importância da educação e a busca pelo desenvolvimento profissional ou pessoal tem a ver com conseguirmos identificar o que sabemos fazer bem e atuar nessa área. Quando isso acontece, naturalmente, conseguimos trabalho e renda o bastante para nos sustentarmos e até realizar alguns sonhos. Olhando assim, a vida é simples. Mas, na maior parte do tempo, não conseguimos enxergar tudo de forma tão nítida…

Na verdade, em boa parte dos dias achamos que não temos talento algum. Abrimos as revistas e vemos todo mundo fazendo o maior sucesso e, então, sentimos que somos os únicos que carregamos pedras de um lado para o outro da cidade, pegamos o metrô para irmos estudar ou trabalhar sem ter a noção exata de onde isso vai nos levar. Para não falar nos dias em que dormimos mal ou ficamos gripados, mal conseguimos levantar da cama direito e quando nos forçamos a isso ainda topamos com a canela na quina da cama!

Na semana passada, eu estava tendo uma crise dessas – até que um palhaço me salvou. Literalmente. Tudo aconteceu numa festa infantil, local de sacrifício de pais contemporâneos, que se entregam periodicamente a coxinhas geladas e cerveja quente enquanto ouvem os gritos de monitores estridentes e das crianças correndo de um lado para o outro com excesso de açúcar no organismo. Quando vi o palhaço chegando com sua mala vermelha de bolas amarelas (claro!), pensei que seria a cereja do bolo de horrores. “Além de tudo, um ator fracassado tentando ganhar dinheiro tapeando crianças pequenas demais para se defenderem”.

Comecei a me surpreender quando ele começou a se maquiar na frente das crianças. Espalhou um kit de maquiagem no chão e começou a passar a base branca, delinear a boca no entorno dos lábios e pintar os olhos. Os pequenos ficaram curiosos. Não precisou de peruca, porque ele tinha uma cabeleira “de macarrão”, como disse minha filha. Apresentou-se com naturalidade e foi perguntando como estavam todos, batendo papo. Isso me deu ânimo para sentar numa cadeira de plástico ao lado do grupo mirim e tentar entender o que estava rolando.

Dentro de dez minutos, o palhaço tinha conseguido mobilizar não apenas as crianças e eu, mas todos os adultos da sala. Durante a performance, estivemos fascinados por seus malabares e dando gargalhadas de cair das cadeiras de suas piadas. Seus olhos brilhavam de tal forma ao fazer as brincadeiras, que era possível visualizá-lo com cinco anos brincando das mesmas coisas com seus amigos. Em meio à euforia, dei-me conta de que aquele palhaço estava fazendo exatamente o que ele nasceu para fazer. Era este o seu segredo: irradiar plenitude.

O mundo inteiro estava ali presente, de repente. A cerveja ficou gelada (aproveitei para encomendar mais uma!) e as coxinhas começaram a sair tostadinhas do forno, como se os garçons quisessem honrar o trabalho do palhaço. O talento é democrático – ocorre com qualquer atividade, por mais insignificante que ela possa parecer. Seja varrer uma calçada ou colher sangue, quando feita com integridade e dedicação, uma energia incrível se espalha entre as pessoas. É disso que nos distanciamos às vezes e foi isso que o palhaço nos devolveu.

Não sei dizer se ele ganha bem com o trabalho que faz (provavelmente não!), se acordou com dor de dente naquele dia ou preferia estar atuando no Circe de Soleil. Sei que naqueles minutos ele restaurou em nós a noção do porquê estamos aqui nos agraciando com o seu potencial realizado, o seu talento, mesmo sendo apenas um grupo de pais celebrando um aniversário num domingo chuvoso. Ao final, agradecemos a ele com uma grande salva de palma em agradecimento à sua plenitude. Agora, basta fazermos o mesmo.

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