Prefácio da autora
Insurgência crônica reúne minhas crônicas dos últimos dez anos. Algumas delas foram meus primeiros textos jamais publicados, em um blog que iniciei em 2008. Ali foi que tateei na fronteira entre os meus próprios diários, a crônica, o artigo mais técnico e o gênero que surgia naquele momento: o post (ora acompanhado de fotos). Ainda em 2008, foi com uma crônica que tive meu primeiro reconhecimento literário, quando ganhei o prêmio literário do meu clube por “Num Quarteirão Qualquer”. A partir daí foi que ganhei confiança para escrever contos, novelas e meu romance.
A crônica jamais me abandonou e eu jamais a abandonei. É um gênero com o qual eu me identifico, pelas suas possibilidades e maleabilidades. Nela, é possível escrever sobre coisas muito simples que nos remetem a coisas muito profundas. Processar algo que se vê na rua ou se sente ao ler uma notícia. Para o escritor, é delicioso poder sentar e dar vazão ao fluxo de ideias criativas em um dia. Para o leitor, é magnífico poder, em poucos parágrafos, ir parar em lugares tão incríveis. Assim, as crônicas nunca cessaram, para abordar os temas mais variados, principalmente: a literatura em si, a sociedade contemporânea, a identidade, o amor & relacionamentos, a política e a maternidade.
O que há em comum em todas essas minhas crônicas é o olhar insurgente para a vida, por isso o título deste livro. Porque o que as inspira são coisas que não nos deixam ficarmos complacentes diante delas. Porque há datas comemorativas em que não temos nada para comemorar. Porque há belezas que não podiam morrer na praia. O cronista é aquele que nota e anota, depois leva tudo isso para o texto, que às vezes faz rir e outras vezes chorar. Acredito no gênero crônica, tão desprezado por tantos, porque ele se presta a isso. É um gênero da resistência diária, do cotidiano, que não nos deixa jamais esmorecer.
Ao longo dos anos, estas crônicas (que ora foram se aproximando do post e da prosa poética) foram publicadas em coletâneas, no site Brasil Post (no qual mantive uma coluna durante alguns anos) e nos meus próprios blogs e Facebook. Foram poucas incursões pelo papel, mas fui descobrindo que elas são amplamente lidas por amigos, inimigos e até em escolas. Fico imensamente feliz em vê-las todas reunidas nesta edição linda da Carlini & Caniato, editora guerreira e parceira desde o início de tudo. Avante com a vida crônica e aguda!