Os Minions e porquê de os pais trabalharem fora
O grande desafio da mulher moderna é conseguir equilibrar seu tempo de dedicação ao trabalho e aos filhos. Se você é mãe, sabe que estou colocando isso de forma light. Na verdade, há um cabo de guerra dentro de cada mulher moderna e ela é puxada com toda a força pelos braços em direções opostas – de um lado o trabalho e do outro os filhos. E isso dói.
Queremos as duas coisas. Mais do que isso, precisamos das duas coisas. Se ter filhos é muito provavelmente a razão biológica para estarmos aqui, o trabalho (para além da remuneração) é nossa função cultural e, em vários sentidos simbólicos, a razão para estarmos aqui, também.
Eu sou dessas mulheres que foi criada para ser independente, ter uma carreira e tentar mudar o mundo. Um belo dia, eu e meu marido resolvemos ter um neném. Os ventos conspiraram e nasceu nossa filha e… bem, eu me apaixonei perdidamente e deixei o trabalho de escanteio por vários anos. O tempo foi passando e apenas recentemente retomei minhas atividades plenamente. Cabo de guerra. Como isso pode acontecer tardiamente, ao invés de quatro meses depois do parto, voltei com muita convicção de querer trabalhar. Minha filha, pelo mesmo motivo, estava muito acostumada a ficar comigo, está sofrendo. Cabo de guerra.
É aqui que entram os Minions (sei que você começou a ler esta crônica por causa deles e até agora não entendeu nada). No primeiro dia das férias, cabulei o trabalho e levei minha filha para assistir aos Minions. Adoramos! Além do passeio perfeito, as pipocas e os serezinhos amarelos serem as coisas mais fofas do mundo, pudemos ambas gargalhar das travessuras Minions e suas crises existenciais. Esse é o gênio dos bons filmes infantis – divertir crianças e pais. De quebra, eles que me ajudaram a comunicar a importância de a mamãe voltar ao trabalho. Ao menos, começar a fazer isso, de forma convincente.
Hoje, quando estava me vestindo para sair, ela entrou no meu quarto choramingando e desabafou que anda chateada que eu estou viajando demais. Eu a peguei no colo, com todo o amor do mundo, e disse:
– Filha. Sabe aquele filme dos Minions que assistimos ontem?
– Sim.
– Foi o máximo, não foi?
– Foi.
– Então. Alguém teve que criar os Minions, sabia?
– Como assim?
– Um ilustrador desenhou um Minion e um escritor escreveu a história, depois eles chamaram um monte de gente para desenhar toda a tribo dos Minions, colorir cada um e fazer um roteiro legal. Tudo isso para a gente ter um filme bacana para assistir, entende?
– Hm.
– Você sabia que vários dos ilustradores e escritores são mamães e papais? E para eles poderem fazer o filme eles precisaram trabalhar muitas horas? E enquanto eles trabalharam, não puderam estar com seus filhos?
– Hmmmmmm…
Sei que ela não vai entender de primeira. Talvez, nem de segunda ou de terceira. Mas vou seguir tentando, porque quero que ela entenda que o trabalho não é apenas uma fonte de renda, mas um campo de interface com o mundo, de diálogo entre o espaço privado (o lar) e o público, de realização de sonhos e ideias geradas no íntimo. Levarei os Minions comigo, porque é visualizando os resultados finais do “trabalho” ou do “estar trabalhando”, como no caso do filme, que as crianças podem assimilar o valor dessas horas preciosas que ficamos longe deles.